quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Para entender... O que Matrix tem a ver com filosofia

Esta semana, faremos uma comparação entre as propostas filosóficas de Sócrates e de Platão e aplicá-las à interpretação do filme Matrix.
Obviamente, interpretação é algo de cunho pessoal e por isso, a minha intenção aqui não é limitar a sua resposta, mas nortear a sua linha de pensamento, que espero, vá bem além!
Então? Pronto? Vamos lá!


Imagem: Divulgação
Matrix e a Filosofia
A concepção platônica da realidade indica a existência de dois mundos: o que é perfeito, real, constante, onde reina a verdade absoluta e de onde se originam as ideias - o mundo inteligível; e o que não passa de uma mera reprodução imperfeita e efêmera - assim como sobras de imagens - o mundo sensível. 
Matrix correlaciona a realidade virtual manipulada por computadores com o mundo sensível, que é enganoso e incompleto. Perceber falhas na Matrix (ter um dejavu), encontrar nela limitações e regras que "podem ser quebradas ou ignoradas", equivale a desmascarar a simulação, e a compreender a existência de algo maior, mais perfeito, mais real do que aquele mundo onde as pessoas estão mentalmente presas.

O verdadeiro mundo, no filme - comparável ao mundo inteligível de Platão - não é agradável nem bonito, mas mostra-se "perfeito" por ser real. Assim como Platão, o roteirista do filme define a realidade mais verdadeira por ser expressa em liberdade. O conceito de perfeição expressa-se, ainda, por nele não ser possível ignorar leis naturais (por exemplo, a morte ou a lei da gravidade), e também por as pessoas poderem ter opção de fazer escolhas por si mesmas, utilizando de livre arbítrio (como Cypher, que optou por trair seus amigos).
A beleza do mundo de ilusões, similarmente ao conceito de Platão, está no que se pode sentir: os cheiros, os sabores, o prazer. E são exatamente essas sensações que ludibriam toda a humanidade, escravizada sem nem ao menos se dar conta. Se eles podem sentir, para eles é real. A escolha de Cypher ilustra a fraqueza humana frente ao desejo de conforto e felicidade, que para ele, é bem atendido pela Matrix. Para Cypher, o que os olhos não veem, o coração não sente, e ele usa de sua liberdade para escolher abster-se dela. Embora mal sucedido, Cypher pôde fazer sua opção. 
O nome de Cypher tem uma significação condizente com a sua função na estória: cifra, ou zero. Ele vendeu-se e entregou seus amigos, assim como Judas Iscariotes, na paixão de Cristo. O número zero contrapõe-se ao número um -  anagrama traduzido para Neo, o heroi da trama - e, juntos, zero e um formam os algarismos do código binário, a linguagem dos computadores.

Morpheu representa o escravo que se libertou da prisão subterrãnea no mito da Caverna, de Platão. Ele traduz a responsabilidade pedagógica do filósofo: passar a infomação a diante, ensinar e libertar mais pessoas. Neo é conduzido por ele e aprende, gradualmente, a libertar-se das limitações que lhe haviam sido impostas desde o nascimento, e percorre o árduo caminho que lhe foi predito pelo oráculo. Apaixona-se por Trinity e chega a ser conduzido por ela no momento do climax da trama. Juntos, Morpheu Neo e Trinity representam pai, filho e espírito santo, em evidente referência religiosa.

Sócrates empresta sua filosofia muito claramente ao flme, quando o oráculo aponta a Neo sua frase mais famosa: "Conhece-te a ti mesmo". Com essa expressão, Sócrates sugere o autoconhecimento e indica os passos necessários para tal objetivo, segundo a maiêutica - primeiro, libertar-se dos preceitos, das mentiras, e depois, trazer à luz seus próprios conceitos, em liberdade.
Neo passa por tais elapas com muito sofrimento e dor - física e psicológica - e tal passagem é vividamente representada nas cenas que aludem ao traumático momento do nascimento humano. Com o auxílio dos amigos - os ensinamentos de Morpheu e a fé de Trinity, Neo consegue autoafirmar-se como "o escolhido" parte rumo ao seu ápice racional, onde consegue parar projéteis de armas e até mesmo voar.

Claro que, de forma caricaturada, o objetido final do filme é mostrar as imensas possibilidades da mente humana, quando liberta das limitações impostas pelos preconceitos e alimentadas pelo comodismo. Ao tornar-se crítico, o ser humano deixa de lado a alienação e passa a pensar com mais clareza e autenticidade, o que lhe confere como que "super-poderes".

Este texto, como dito anteriormente, é limitado e muitíssimo resumido. Convido o leitor a aprofundar-se com base nestas poucas orientações básicas. Seguem algumas perguntas para ajudar-lhe a filosofar mais a respeito:

Será que estamos prontos para enfrentar a realidade?


Estamos sendo usados?




Procure responder a essas perguntas pensando na nossa fraqueza humana, nas influências sociais, na mídia, na sociedade...

Espero ter ajudado, pessoal.
Abraço a todos!

18 comentários:

  1. Análise muito boa. A relação com Platão é pertinente, aceitável. Até agora foi o que de melhor encontrei sobre Matrix. Saudações.

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    1. isso mesmo, concordo contigo plenamente, por isso eu mostro minha saudação para o povo.
      muito prazer meu nome é joão pedro valio, moro na rua alameda dos andes, 910.
      vamos ser amigos, me de retorno quero amigos :(

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  2. Menina você vai longe muito bem explicado

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  3. eu .. fiz uma aqui também não tão boa como a dela , mais bem mais simplificada

    Matrix traz à tela, na sua polissemia, algumas histórias. William Irwin, neste artigo, aponta a presença de uma clara imagem bíblica e compara a história de Neo à de Sócrates, destacando várias semelhanças. O herói intelectual que paga com a vida a sua persistente busca é talvez a similitude maior.

    O oráculo, as consultas e a epígrafe comum entre o Templo de Delfos e a casa de subúrbio de Matrix, não deixam dúvidas sobre a pretensão dos irmãos Wachowski. O diálogo entre o Oráculo e os tripulantes da nave Nabucodonosor é socrático. As respostas são elusivas e provocam mais dúvidas do que certezas. A sabedoria de Delfos pode ser captada nos diálogos e nas imagens. Nada em excesso é uma das lições: Pegue um biscoito, o Oráculo diz a Neo, e não pegue alguns biscoitos ou pegue quantos biscoitos seu coração desejar. Neo não é “o” Escolhido – ele tem que se tornar “O Escolhido”. Dependerá dele, e somente dele, esta transformação. Neo precisa auto-conhecer-se.

    Irwin lembra outro grande momento da filosofia grega: o mito platônico da caverna. A prisão pra a mente, citada por Morpheus no diálogo com Neo, é a imagem do prisioneiro da caverna platônico. Tanto na Matrix como na caverna os prisioneiros não sabem que são prisioneiros e nem desconfiam que exista outra realidade além daquela em que vivem. Um dia, porém, um deles é libertado das correntes e levado ao mundo exterior e, sob a luz do sol, vê as coisas como elas realmente são. Em vez de egoisticamente permanecer lá fora, o prisioneiro volta para contar aos outros, que retribuem seu gesto de bondade com zombarias e resistência, acreditando que ele ficou louco.

    Sócrates, professor de Platão, é a figura do prisioneiro que volta, é estigmatizado como louco e morre por não querer voltar ao mundo da ilusão. Há um paralelo com a história de Neo, que um dia se liberta de Matrix para vislumbrar “o deserto do real”. A filosofia platônica do contraponto entre o conhecimento e a realidade, entre a matéria e a forma, a percepção pelo intelecto e pelos sentidos, perpassam por todo o filme. Neo também aprende que o intelecto é mais importante que os sentidos. A mente é mais importante que a matéria. Quando a Platão, o físico não é tão real quanto a Forma; por isso, para Neo, “não existe colher”. A forma – o ideal platônico – é representada pelo déjà vu. E o “déjà vu” não é evidência de uma falha na Matrix, e sim uma recordação (anamnesis) das Formas.

    Ao escolher a pílula vermelha, Neo segue o caminho menos percorrido, o caminho da audácia e da inconformação. Irwin lembra o poema de Robert Frost: Escolhi o caminho menos percorrido / E isso fez toda a diferença. Escolher é o verbo predileto de Morpheus.

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  4. Compreendo dessa forma também.

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  5. Muito obg me ajudaro no trabalho da escola ..

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  6. Muito obg me ajudaro no trabalho da escola ..

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  7. Parabéns Paula!!!
    Como estudante eterno da vã semiologia, agradeço seu esforço em partilhar esses conhecimentos sobre a Sétima Arte e a base de toda a humanidade; o conceito de filosofar diante de nossa própria existência. Vou ler outros artigos seus.
    Como diz o livro Maestria, você já é uma mestra, apenas precisa seguir esse caminho entendendo que no mundo da matéria e, neste país de 50 milhões de analfabetos funcionais, sua causa será pouco compreendida. Mas, assim como no filme e na vida, você fez sua escolha. Portanto, mais uma vez parabéns.

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    1. é maconha doidio

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    2. Bom dia boa tarde boa noite, eu como um estudante nato de filosofia na USP, estou aqui para mandar saudações, meu nome é Heitor de nobrega corleoni estou no ultimo ano da minha faculdade, quando eu sair desta jaula de faculdade publica vou te caçar, te desmembrar e estuprar-lo, como sempre o ato de filosofar tem que estar em nossas vidas pois você se sente mais livre leve e solto

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