quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Para entender... o mundo das ideias de Platão

O projeto filosófico de Platão era centralizado na natureza e sua origem. A concepção platônica a respeito da realidade é muito discutida até hoje, e aplicada de várias formas diferentes. Antes de vermos as possibilidades de aplicação, temos que entender bem o conceito em si.

Para Platão, a realidade se divide em duas: o mundo sensível e o mundo inteligível.

O mundo sensível

Platão considerava o mundo sensível, esse no qual podemos tocar, cheirar, saborear, ouvir, enfim sentir, um mundo imperfeito e enganoso. Devido à sua natureza dinâmica, o mundo sensível flui em um movimento de transformação contínua, mudando a todo instante.
"Não se pode percorrer duas vezes o mesmo rio, e não se pode tocar duas vezes uma substância mortal no mesmo estado; por causa da impetuosidade e da velocidade da mutação, esta se dispersa e se recolhe, vem e vai" - 91 - Dels-Kranz
Sendo assim, na concepção de Platão, o mundo sensível não era confiável, e consistia em nada além de uma mera projeção da verdadeira realidade - o mundo das ideias.

O mundo das ideias

O mundo perfeito, atingível apenas mediante o racicínio, é o mundo das ideias de Platão. Onde se  encontram todas as informações a respeito de tudo o que existe, em sua plenitude, livre da corrosão e do tempo. No mundo sensível, uma galinha é mortal e deixa de existir. Mas, no mundo inteligível - como também é chamado o mundo das ideias - a ideia de galinha nunca se corromperá: sempre saberemos como é uma galinha.  
Assim, àquela velha pergunta, sobre quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha, Platão responderia: nenhum dos dois! o que veio primeiro foi a ideia de galinha... (profundo, não?)
Bem, para ilustrar a diferença entre o mundo sensível e o mundo inteligível com (muito) mais competência do que eu, Platão criou o Mito da caverna.
"O Mito da caverna
Imagine uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão aprisioados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e olhar apenas para a frente, não podendo girar a cabeça nem para trás e nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que possa, na semi-obscuridadem enxergar o que se passa no interior.
A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros, no exterior, portanto, há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens tranportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas.
Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxergam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportavam.
Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, eles não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda a luminosidade possível é a que reina na caverna.
Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado?

Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outro seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Emboa dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, nele adentraria.
Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol, e ele ficaria completamente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda a sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está conteplando a própria realidade.
Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro retornaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria liberta-los.
Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silencia-lo com suas caçoadas, tentariam faze-lo enpancando-o, e se mesmo assim ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por mata-lo." - Convite à Filosofia, Chauí
Para Platão, a visão que temos limitada ao mundo sensível é tão incompleta e imperfeita quanto as sombras de estatuetas projetadas na parede da caverna.
Além de dar uma ilustração aos seus conceitos, no Mito da caverna, Platão faz referência à função pedagógica do filósofo, que após atingir a verdade, retorna às trevas para proporcionar liberdade aos prisioneiros. Também, faz alusão à morte trágica de seu mestre, Sócrates, que foi condenado à morte por divulgar sua filosofia.

Nos próximos posts, veremos algumas possibilidades de aplicação dos conceitos platônico e socrático.

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